domingo, 12 de fevereiro de 2012

Desenvolvimento infantil – a criança de o a 15 anos

Desenvolvimento infantil – a criança de o a 15 anos


Elizabeth soa Santos Lopes de Macedo & Cristina Manzano Pini
Psicólogas, psicopedagogas e educadoras


Quando é proposto um trabalho em Educação para o Trânsito, a maioria das pessoas pensa em abordar sinalização e a formação do futuro motorista. Porém o caminho deve ser outro ao elaborar um projeto para o público infantil, pois é preciso conhecer as características da faixa etária, a realidade social na qual a criança está inserida e que papel ela desempenha no trânsito.
Quem é esta criança? Quais os pontos fundamentais que devem ser abordados para garantir sua segurança no trânsito? Primeiramente, é um individuo em construção, pois toda criança tem um desenvolvimento gradual, que é resultado da maturação biológica, seguindo o desenvolvimento das estruturas lógicas (Piaget, 1979), associada à interação com o meio social, que começa desde o nascimento, quando a criança observa, experimenta e imita, construindo seu conhecimento sobre o mundo, o que Vigotsky denomina “conceitos cotidianos”. Este teórico ressalta a importância de um meio ambiente estimulante e desafiador, pois o desenvolvimento depende do esforço individual e do contexto onde o indivíduo se insere. O processo de desenvolvimento acontece de forma gradual, existe uma seqüência de etapas a serem cumpridas, mas cada um as realiza no seu tempo.

A criança de 0 a 2 anos, vivencia um processo de desenvolvimento acelerado. É no decorrer deste período que adquire a maturação biológica para se locomover e a capacidade de se expressar por meio da linguagem. No trânsito é totalmente dependente de um responsável, precisando ser carregada para se locomover e em veículos ser transportada de forma correta para a sua segurança, com acomodação adequada para cada faixa etária. Em Educação para o trânsito, trabalhamos com os responsáveis - pais e professores, que além de cuidar, oferecem, através do seu comportamento, o exemplo de atitudes seguras.

A criança de 2 a 5 anos passa a fazer parte mais efetiva do trânsito, ora como pedestre, ora como passageiro. Já se locomove sozinha, porém ainda precisa do acompanhamento de um responsável. Começa a ter noção do espaço urbano, sabe o que é uma rua, calçada, carro, identifica sua casa, sua escola. Conhece cores e aprende a relacioná-las ao significado no trânsito, como por exemplo: “vermelho é para parar”. No entanto, suas características específicas ainda não permitem uma total autonomia em sua locomoção. Por exemplo: sua visão periférica não está totalmente formada, enxerga apenas o que está a sua frente, o que causa dificuldade na hora da travessia; sua atenção é focada, ao brincar com uma bola concentra-se completamente no que está fazendo esquecendo-se do que está a sua volta, confunde tamanho e distância, quando há dois veículos na via (lado a lado), um carro menor e um caminhão, o carro de passeio lhe parece mais distante que o caminhão; tem limites para distinguir sons, calcular velocidade, entender sinais e termos técnicos como semáforo veicular.
A educação para o trânsito, nesta etapa, deve ser trabalhada de forma lúdica, pois é através do brincar, que a criança apreende o mundo a sua volta, experimenta papéis, reconhece sua capacidade, supera desafios, testa limites e se socializa. Nas brincadeiras tem a possibilidade de vivenciar situações análogas à realidade e vai gradativamente formando seus conceitos e construindo seu conhecimento. Os principais conceitos a serem trabalhados nesta faixa etária são os de segurança do pedestre como circulação, travessia e sinalização, que deve ser iniciada com a explicação do significado das cores do semáforo veicular, e quando a criança tiver maturidade incluir a relação com o semáforo de pedestres.
Quanto aos valores morais, está na fase da heteronomia. A validade das regras é exterior à criança e está associada à fonte de onde provém, isto é, se um adulto que ela respeita explica uma regra de trânsito, de maneira geral, aceita e acata. Dentro da escola, as crianças têm a oportunidade de exercitar o trânsito de forma concreta, sendo que o professor pode construir com elas a organização do movimento de ir e vir. A observação do entorno da escola também favorece a fixação destes conteúdos e inicia a discussão sobre cidadania.

A criança de 6 a 11 anos já apresenta alguma autonomia como pedestre, porém ainda necessita de orientação. Está numa fase de desenvolvimento que possibilita aprender os conceitos para sua segurança no trânsito, mas sua maturidade emocional ainda está instável, sendo que as responsabilidades relacionadas aos comportamentos independentes, muitas vezes abalam a segurança e confiança em si mesma, podendo ter atitudes impensadas colocando-se assim, em situações de risco. Nesta faixa etária é importante dosar as responsabilidades. No caso do trânsito, pode realizar pequenos percursos, em um primeiro momento com orientação de um responsável, prestando atenção no caminho diário de casa para escola e vice- versa, estimulando a concentração a fim de diminuir sua tendência a fantasiar.
Segundo Piaget, dos 7 aos 11 anos a criança encontra-se no estágio das operações concretas, ou seja suas idéias se baseiam em situações concretas, fatos que podem ver e sentir. Soluciona os problemas por tentativa e erro, que aos poucos transforma em imagens e palavras. Começa a compreender as regras pelo seu conteúdo e as legitima, não só porque provém de uma pessoa que admira, como pais e professores, mas também porque se convence racionalmente da sua validade. Tem uma crescente consciência do que é certo ou errado, sendo um bom momento para aprofundar a reflexão sobre respeito mútuo no trânsito e cidadania.
Para trabalhar o tema trânsito são interessantes vivências nas quais primeiro a criança explore para depois conceituar, como realizar uma ampla exploração da observação do entorno da escola, do seu trajeto; refletindo sobre o que acontece, as transformações ocorridas, o seu próprio comportamento, etc., finalizando com o registro dessas conclusões que permitem que esta criança realize uma aprendizagem significativa.
Nesta idade, ainda gosta de diversas brincadeiras, mas geralmente prefere os jogos com regras, pois está cada vez menos individualista, exigindo cooperação e esforço do grupo. É um bom momento para introduzir junto à criança, jogos de regras, relacionando-os com o tema trânsito. Segundo Macedo (2005): “ao jogar a criança desenvolve o respeito mútuo, o saber compartilhar uma tarefa com regras e objetivos, a reciprocidade, as estratégias para enfrentamento das situações problema, os raciocínios.” Nesta etapa é importante reforçar os conceitos de segurança do pedestre, porém já é possível ampliar os conhecimentos, incluindo alguns termos técnicos, como a explicação sobre a travessia no meio do quarteirão, quando não há faixa de segurança.

A criança de 11 a 15 anos, já apresenta certa autonomia como pedestre, porém ainda não tem maturidade emocional para conduzir veículos automotores. Tem noção do perigo, do certo e do errado, mas não possui a compreensão da amplitude das conseqüências dos seus atos. Pode até ter habilidade para dirigir, mas numa situação de pressão existe a possibilidade de se desestabilizar tomando decisões equivocadas e com isso provocar acidentes.
Conforme Piaget, a criança com mais ou menos onze anos, está em transição do estágio das operações concretas para o estágio das operações formais. Começa a pensar sobre idéias abstratas. Tem a tendência de formular proposições e teorias, buscando o que é possível, além do real. Isto amplia seu pensamento, permitindo a exploração mental de hipóteses. Esta característica pode ser aproveitada para trabalhar o tema trânsito, a partir da ampla observação do entorno da escola, conhecendo melhor sua realidade, podendo assim interferir em seu meio, de forma profunda e criativa.
Este adolescente irá aceitar as regras que julgar moralmente certas. Não levando em consideração apenas a fonte de onde provêm, mas também seu próprio julgamento. Buscam soluções para enfrentar os desafios que encontram no trânsito, comparando as orientações que receberam dos adultos com a sua própria tomada de decisão, acatando e repensando normas que são importantes para a sua segurança.
Por volta dos quinze anos, a maior parte do crescimento físico e mental já se completou. Apresenta agudeza de visão e de reflexos, somando-se a isto, tem a tendência de desafiar o perigo como uma forma de liberar a adrenalina. De maneira geral, sentem-se onipotentes, tendo a falsa impressão de que nada de mal pode lhes acontecer, adotando comportamentos perigosos, como pegar um veículo sem autorização.
A Educação para o trânsito não deve ser apresentada apenas de forma informativa, mas propiciar uma ampla reflexão sobre valores e ética. Em primeiro lugar explorar os conceitos de segurança do pedestre e motorista, a importância do respeito mútuo, as conseqüências de seus atos em relação ao trânsito, trabalhando sua auto-estima para a importância de preservar a própria vida e a dos outros. Os pais e os professores ainda possuem um papel importante, pois são figuras de referencia para o adolescente, portanto se eles têm uma preocupação com sua segurança e a dos outros a tendência é a que os jovens reproduzam estes mesmos comportamentos.
O tema trânsito deve ser trabalhado de forma transversal, em todas as matérias, sempre com o objetivo de favorecer a reflexão para a efetiva adoção de comportamentos seguros e de respeito no trânsito. Por exemplo, nas aulas de física as conseqüências do abuso da velocidade podem ser trabalhadas, nas de Português podem ser feitas análises de notícias de jornais ou da internet, propiciando o debate sobre o tema. Ao trabalhar o tema trânsito com crianças, devemos sempre levar em conta a fase de desenvolvimento em que esta se encontra, sua realidade e o fato de que ela é prioritariamente um pedestre.
Para atingir melhores resultados a Educação para o trânsito deve ser abordada em todas as faixas etárias, de forma contínua, no decorrer do ano; transversal, para propiciar a construção de comportamentos seguros e preferencialmente com recursos lúdicos. O uso da arte educação reúne os aspectos cognitivos e afetivos na assimilação de conceitos, reforçando o significado e sentido na construção de comportamentos seguros e éticos no trânsito.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHARLES, C. M., Piaget ao alcance dos professores, Rio de janeiro: Ao livro técnico, 1975.

MACEDO, Lino; PETTY, Ana Lúcia Sícoli; PASSOS, Norimar
Christe, Os jogos e o lúdico na aprendizagem escolar, Porto Alegre: Artmed, 2005.

VIGOTSKI, L. S. O desenvolvimento psicológico na infância, São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Fonte: http://www.blackboard.sp.senac.br/webapps/portal/frameset.jsp?tab_id=_2_1&url=%2fwebapps%2fblackboard%2fexecute%2flauncher%3ftype%3dCourse%26id%3d_18151_1%26url%3d

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