VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO
Samuel havia nascido numa família abastada, recebido excelente educação
dos pais e acadêmica, freqüentado os melhores clubes da cidade e praticado
esportes desde pequenino.
Durante a sua vida havia sofrido violência física de colegas, psicológica
e verbal de chefes atribulados e negligência de algumas babás que eram pagas
para cuidar do seu bem estar enquanto seus pais trabalhavam.
Ainda adolescente encantou-se com Amélia com quem iniciou um romance
ardentemente apaixonado culminando em casamento quando ambos atingiram os vinte
e dois anos de idade.
Formavam o mais lindo e apaixonado casal do mundo!
Para coroar a felicidade de ambos, Deus lhes presenteou com um casal de
gêmeos, Eunice e Alberto que chegaram para iluminar aquele lar abençoado com
graça e inocência. Enquanto desfrutavam da intensa felicidade que os envolvia, uma
secreta adversidade com olhos de inveja e maldade os espionava pelas frestas
dos seus dias.
Quando os gêmeos fizeram sete aninhos, Amélia apresentou sinais de
cansaço, palidez e alguns sintomas como dores generalizadas e sensações de
formigamento em todo o corpo.
Examinada por vários médicos que não conseguiram chegar a diagnóstico
algum, veio a falecer numa manhã de domingo quando o sol convidava à celebração
da vida, deixando um marido atônito e desolado e um casal de filhos reclamando
a sua presença.
Instrumentalizado com a sua fé inabalável Samuel criou os filhos
ensinando-lhes severas lições de dever e responsabilidade. Neste clima de
educação ilibada cresceram, estudaram e formaram-se. Eunice tornou-se médica
especialista em Geriatria e Alberto enveredou pela Psicologia. Encantado com a
área voltada para a ser humano no inverno da vida (velhice),aí
estacionou,especializando-se e participando de vários cursos e seminários.
Enquanto os filhos cresciam na vida familiar e profissional Samuel
envelhecia, morando tempos com Eunice, tempos com Alberto, cumprindo mais uma
etapa do ciclo vital inerente ao ser vivo que é: nascer, crescer, amadurecer,
reproduzir e morrer!
Faltava-lhe a última etapa a qual ele não temia e esperava que esta
chegasse quando ele estivesse na companhia dos filhos e netos, mas, qual
não foi a sua surpresa quando, numa manhã de inverno quando o frio
convidava ao repouso sob cobertores quentinhos, Samuel foi despertado com
delicadeza pela sua filha alegando precisar conversar com ele.
Samuel, educadamente sentou-se na sua cama e ouviu a pior sentença da
sua vida, a pior violência que até então ele nunca havia sofrido: seus filhos
haviam conversado entre si e chegaram à conclusão de que o melhor lugar para o
pai era um Lar de Idosos que havia no mesmo bairro da casa de Eunice. Ela
enfatizava que havia assistência de médico geriatra, enfermeiros especializados,
cuidadores gentis e preparados, alimentação rica e variada e todo o aparato que
um idoso precisa para sobreviver com boa qualidade de vida.
Samuel abriu a boca para dizer-lhe que o único aparato que ele carecia
era do Amor dos filhos e netos e das suas presenças, ainda que lhe faltasse
tudo que ela havia citado, mas engoliu as suas palavras, pois pressentia ser
uma decisão irrevogável por parte dos filhos. A sua alma congelou mais que o
inverno que batia nas vidraças da janela do seu quarto enquanto as janelas da
sua alma fecharam-se para sempre ao mundo externo.
No dia seguinte, com um pálido sorriso nos lábios foi conduzido ao Lar
de Idosos de onde saiu três dias depois após morrer dormindo sem nenhuma causa
aparente...
A Mais Cruel e Indigna Violência que se faz ao Idoso é o abandono pela
própria família.
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