CURRÍCULO FUNCIONAL NATURAL
[1]SOUZA, Vera Lúcia Pereira de
Segundo LeBlanc (1992), Currículo Funcional Natural é educar conhecimento e aptidões, que possam ser utilizadas pelo estudante, serem vantajosos em vários espaços e conseqüentemente úteis em sua vida, para que sejam mais autônomos, produtivos e felizes. A palavra Funcional expressa eleger objetivos educacionais com ênfase no que é útil para o estudante na ocasião, num futuro não muito longínquo e que possa continuar sendo útil em sua vida. A palavra “Natural” com o significado de ensinar no espaço em que, normalmente, o episódio ocorre ou em circunstância semelhante ao que advém no mundo real. “Aprender fazendo” produz a manutenção do que se estuda. Quando se estuda com os conhecimentos do mundo, dificilmente esquece-se e o que se aprende é o que se pratica, quando se depara uma mesma situação.
O autor considera ainda o uso de apoios naturais, como os mais apropriados para sustentar a conduta aprendida. “Enfoque Amigo”, cujo princípio supõe que os amigos sejam apoios importantes, porque eles são fontes de garantia social. Dessa forma, os especialistas centralizam sua vigilância em discorrer com os estudantes de forma natural, como discorreríamos com qualquer amigo e não como autoridades. O autor, acima citado, menciona-se, também, a um ensino interativo e não diretivo, como habitualmente ocorre no ensino habitual e que os alunos com deficiência severa podem aprender.
Responsabiliza os programas de ensino por esse ensinar, independentemente da severidade da deficiência ou da existência de fala funcional. Referiu-se aos estudantes como aptos de mostrar seus sentimentos, se lhes fizermos a indagação correta e formos sensíveis às suas respostas não orais. Dessa forma, perguntar aos estudantes “como se sentem” e “o que fazem atualmente” são perguntas que, facilmente, fazemos aos nossos amigos e devem ser feitas do mesmo modo a eles. (LEBLANC, 1992)
A autora explica que eles devem ser abordados como abordamos nossos amigos: Quando nossos amigos estão aborrecidos e nos dizem expressões feias, não os castigamos por isso. Na maior parte das vezes, escutamos suas lamentações e não nos entristecemos por nos terem dito palavras desagradáveis em um período tão complicado. Não utilizamos de autoridade para fazê-los silenciar.
O Currículo Funcional Natural é a metodologia seguida pelo Centro Ann Sullivan do Peru desde 1979, fundado e orientado pela Dra Liliana Mayo.
A Abordagem Ecológica (Cardoso, 1997) é uma proposta comunitária participativa, culturalmente ajustada e apoiada no conhecimento do aluno, de seu meio e das relações mútuas entre os mesmos. Nessa abordagem, o aluno é analisado nas diversas dimensões: Biológica, Social, Cognitiva e Espiritual, tendo em vista o desenvolvimento do aluno com essas dimensões inter-relacionadas.
Falvey (1986) descreveu que a avaliação e o currículo do estudante com desvantagem (severo) precisam ser funcionais, adequados à idade cronológica e refletir mudanças. Segundo a autora, a avaliação carece ser adequada à idade cronológica do aluno e medir os desempenhos esperados por pessoas não deficientes naquela mesma idade. Isto procede em ensinar atividades que são desempenhadas por pessoas não deficientes naquela idade, abandonando, assim, a idade intelectual do aluno.
A avaliação e o currículo precisam refletir as necessidades do estudante, considerando mudanças, isto é, devem preparar o aluno para espaços, perspectivas, normas, regras e outras fases seguintes. Considerou que a avaliação e o currículo necessitam ser fundamentados no anseio, necessidades, prioridades e no meio cultural em que o aluno habita. Fez citação aos alunos com significativa dificuldade de comunicação que necessitam ser consideradas táticas para conseguir dados sobre suas prioridades como: a reação do aluno nos vários espaços, os materiais empregados, as atividades, pessoas envolvidas e outros “estímulos”. Destacou igualmente a coleta de subsídios com pais, irmãos e outras pessoas expressivas. Avaliou como modificável, no processo de avaliação, o material usado com o aluno.
Deste modo, o desconhecimento do material oferecido ao aluno, na avaliação, pode esconder um julgamento já obtido em sua vida por ignorar o material empregado e, como seqüela, não concretizar a resposta apropriada. (FALVEY 1986).
Donnellan e Neal (1986) narram sobre as novas expectativas na educação de alunos com autismo e condições idênticas em indivíduos que apresentem incapacidade severa, num período em que a educação, na escola pública, começa a ser debatida e começam a aparecer resultados positivos ocorridos desse trabalho. Narram sobre os avanços atuais do currículo funcional nas análises, proporcionando a essas pessoas evoluções significativas no manejo da conduta, no treino de habilidades sociais e no campo educativo.
A respeito do processo de avaliação funcional, destaca a importância em definir o Funcionamento do aluno nos diversos ambientes, necessitando ser feita uma relação de ambientes normalmente utilizados e que os ambientes comunitários e a casa do aluno são prioritários em relação ao ambiente escolar. Precisam ser feitas adequações para auxiliar o aluno no seu desempenho e requer, dos alunos, um eficaz desempenho nesses ambientes para lidar com resultados. Explana os procedimentos dos alunos como uma forma de anunciar suas precisões e que cada um deles se expressa de uma forma distinta produzindo um efeito desejável ou não. As tarefas devem ser adequadas à idade cronológica e não devem ser usadas tarefas que seriam compatíveis com uma idade menor do que o aluno tem. (DONNELLAN e NEAL, 1986).
Os autores acima citados, ressaltam que as instruções e o ensino precisam ocorrer no contexto real onde o episódio acontece, dando ao aluno a ajuda e o diálogo necessário para aprimorar seu desempenho. Explanam sobre a importância do hábito e que os sinais de princípio e término podem ser naturais, como ocorre a todas as pessoas e que, nessa rotina prática, as habilidades de coordenação motora fina e grossa, comunicação, auto-ajuda e atividades pré-acadêmicas estão incluídas. Em síntese, um currículo ideal precisa conter um programa de impacto.
Metas operacionais, mensurar, nos ambientes, o funcionamento do aluno em comunicação, auto-ajuda, entretenimento, tempo livre e as mudanças. Como utiliza os espaços. As ajudas que o aluno precisa nesses ambientes. Destaque em um programa positivo e intercessões não aversivas.
Filosofia: Tratar como Pessoa e Educar para a vida (Cuccovia, 2003):
O Que é Tratar Como Pessoa | O Que é Educar Para a Vida |
Confiar na idade que apresento | É ensinar habilidades ajustadas com a minha idade |
Admitir que exponha meus anseios | É ensinar uma opção de comunicação |
Respeitar o que desejo fazer | É instruir atividades de vida (Trabalho) |
Mostrar fronteiras, direitos e obrigações | É instruir como funciona meu mundo |
De acordo com Miura (2008, p.155)
O desenvolvimento de um Currículo Funcional Natural (CFN) para pessoas com necessidades educacionais especiais fundamenta-se numa filosofia de educação que determina a forma e o conteúdo de um currículo adequado às características individuais. Requer uma metodologia instrucional que enfatiza a aplicação do conhecimento e habilidades em contexto real.
Trata-se de um ensino que oferece oportunidades naturais para os alunos aprenderem o que é importante para torná-los mais independentes, produtivos, felizes e competentes, em diversos contextos da vida em comunidade, como o vocacional, acadêmico, recreativo, esportivo, familiar e de auto-cuidados (MIURA, 2008).
AVALIAÇÃO ECOLÓGICA E AVALIAÇÃO FUNCIONAL
AVALIAÇÃO ECOLÓGICA
Esta forma de avaliar foi complementada pela abordagem sócio-cultural ecológica (Bornfrenbrenner, 1996) cuja evidência não foi dada na deficiência, perda ou limitação, mas nas necessidades do educando com deficiência, na transformação do meio, nos instrumentos e recursos materiais para que se atinjam níveis mais elevados de aprendizagem. É sócio-cultural, porque procura incluir os eventos individuais com os outros planos da cultura, das práticas sociais e institucionais.
Adota-se neste Caderno Pedagógico essa forma sistêmica que a abordagem ecológica usa para avaliar, fundamentada nos estudos de Bronfenbrenner (1996) cuja raiz está na perspectiva sócio-histórica de Vigotsky e concebe a construção do sujeito como uma ação dialética complexa: produto de uma metodologia de desenvolvimento aprofundado nas ligações entre a história particular e a história social. (VIGOTSKY, 1989).
Chama-se ecológica, de acordo com Bronfenbrenner (1996), porque está preocupada com as inter-relações dos organismos com o seu espaço. A avaliação se dá na relação com as outras pessoas, no conjunto e no espaço natural. Busca compreender o sistema e a cultura em que o educando especial e sua família vive. A avaliação ecológica consiste em elaborar um mapa do sistema: forças, barreiras, necessidades, apoios e desafios. Usa-se, para diagnóstico e interpretação dos dados de avaliação, de variáveis comunicativas de nível intrapessoal, interpessoal e grupal; variáveis situacionais, nas quais os materiais, o ambiente e tempo são rearranjados no argumento natural.
AVALIAÇÃO FUNCIONAL
É uma metodologia de avaliação qualitativa e contínua, através da observação informal e natural do educando especial em todas as situações de vida e atividades habituais. Tem por objetivo obter dados sobre o funcionamento do aluno, compreender todas as possibilidades globais e verificar as necessidades específicas e dificuldades que intervém no processo de desenvolvimento e aprendizagem. (SACRISTÁN, 1998).
Chama-se funcional porque não avalia apenas o educando, mas procura entender o que pode ser útil e funcional para melhorar o desempenho global, o acesso ao conhecimento, garantindo assim, a melhoria e qualidade de vida do educando e seus familiares.
Trata-se de um diagnóstico pedagógico com fim formativo, que de acordo com Sacristán (1998), serve à tomada de consciência e auxilia a refletir sobre o processo de intervenção, no planejamento de atividades e compreender como o educando está avançando; permite ainda inserir alternativas, correções ou reforçar certos aspectos.
Esse processo reflete e expressa à avaliação em múltiplas dimensões: na interação e comunicação, nos aspectos visuais, sensório-motor e perceptivo; cognitivos, função simbólica e formação de conceitos; hábitos sociais, de independência e higiene, interesses, mobilidade, brinquedos e necessidades específicas para adaptação escolar. (SACRISTÁN 1998).
Segundo o autor acima citado, a ênfase não é dada na deficiência, perda ou limitação; mas na modificação do meio, na utilização dos recursos específicos, nas atividades e estratégias metodológicas, na adaptação dos brinquedos, jogos, materiais escolares e na estruturação e organização do ambiente. De forma que beneficie ao máximo a aprendizagem do educando. (SACRISTÁN 1998).
Ainda, segundo o mesmo autor, a avaliação funcional pode ser desempenhada por meio de entrevistas, protocolos de observações, testes e fichas de registros. O foco de atenção não é apenas o educando, mas, toda a família.
Assim, a avaliação funcional se torna ponta de partida para a concepção das possibilidades e necessidades educativas especiais, que deverão ser consideradas, quando necessário, no Plano de Atendimento Individual, e nas adaptações curriculares, que deverão ser parte integrante do Projeto Político Pedagógico e Plano de Desenvolvimento Educacional.
A participação ativa da família é essencial porque colabora com informações sobre as necessidades do educando, seus interesses, como vê, o que lhe é difícil; como interage, comunica-se com outros educando. Nesse processo, a família tem a chance de especificar suas dúvidas, ansiedades e frustrações, como também de compartilhar como mediador no processo educacional do educando. (SACRISTÁN 1998).
Por esse caminho, a Avaliação Funcional, realizada pelo professor especializado, não deve ver apenas a deficiência, a condição física; mas, procura conhecer integralmente o educando - compreender todas as possibilidades, o desenvolvimento global, os interesses, as relações interpessoais, as dificuldades, as necessidades do educando; bem como os desejos e expectativas do educando e de sua família.
REFERÊNCIAS
BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
CARDOSO, M. C. F. (1997). Abordagem Ecológica em Educação Especial: Fundamentos básicos para o currículo. Brasília: MEC/CORDE.
CUCCOVIA, M. M. (2003). Análise De Procedimentos Para Avaliação De Interesses De Um Currículo Funcional Natural E Seus Efeitos No Funcionamento Geral De Indivíduos Com Deficiência Mental E Autismo. Tese de dissertação de mestrado no programa de pós-graduação em educação especial, Universidade Federal de São Carlos. São Carlos.
DONNELLAN, M. A & NEEL, S. R (1996). New directions in educating students with autism in: R.H. Honer, L. H. Meyer & H. D. B. Fredericks (Eds) Education of Lear with severe Handicaps (pp. 99-126). Baltimore: Paul H. Brookes.
FALVEY, M. A. (1986). Comunity – Based Curriculum. Baltimore, Maryland: Paul-H- Brookes Publishing Co.
LEBLANC, J. M. El Curriculum Funcional en la educación de la persona con retardo mental. Trabalho apresentado na ASPANDEM, Mallagra, España, 1992.
MIURA, R. K. K. Considerações sobre o Currículo Funcional Natural – CFN. In: OLIVEIRA, A. A. S.; OMOTE, S.; GIROTO, C. R. M. (Org.). Inclusão Escolar: as contribuições da educação especial. São Paulo: Cultura Acadêmica, Marília: Fundepe Editora, 2008. p.153-165.
SACRISTAN, G. Compreender e Transformar o ensino. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
VIGOTSKY, L.S. El nino ciego. In obras completas. Tomo V. Habana: Cuba, 1989.
[1] Professora PDE/2009 – Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola com o Título: Educação Profissional para Alunos com Deficiência Intelectual Significativa
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