domingo, 30 de março de 2014

AS PESSOAS AFRICANAS NA CULTURA BRASILEIRA

AS PESSOAS AFRICANAS NA CULTURA BRASILEIRA
SOUZA, Vera Lúcia Pereira de.


              No encontro dos povos africanos com a sociedade europeia, desconheceu as especificidades de cada etnia, os denominava genericamente de “negros”. Porém, as pessoas africanas estavam divididas em diversos territórios étnicos. Cada pessoa africana se reconhecia como Fanti, Ashanti, Peul, Mandinga, Fulani, Zulu, e assim por diante[1].
              Esses vários tipos de pessoas africanas, dessas múltiplas “áfricas” não foram trazido para um único Brasil. As heterogeneidades regionais e os múltiplos tipos de atividades econômicas, em que as pessoas africanas foram introduzidas, demandam que todos estudioso fique atento para o fato de que a própria experiência da escravidão foi plural.
              Ao repassarmos os pontos em comum da presença da pessoa africana em todo o nosso país Brasil. Notamos que o principal ambiente ocupado pelas pessoas africanas foi o ambiente do trabalho. Em consequência da escravidão[2] das pessoas negras o trabalho braçal passou por um procedimento de desqualificação, de menosprezo na sociedade brasileira.
              Nem todas as pessoas africanas trabalharam nos eitos das fazendas de açúcar, tabaco, café, nas minas ou na criação do gado. Teve aqueles que foram ilustres artesões, artistas, instrumentistas.



              Para entendermos melhor podemos lembrar-nos do mestre Aleijadinho[3] (Antônio Francisco Lisboa) que foi autor de esculturas e fachada de igrejas barrocas nas cidades de Saberá, Ouro Preto, Congonhas do Campo em Minas Gerais.

Mestre Valentim
              Tão importante quanto Aleijadinho em Minas Gerais foi o Mestre Valentim[4] um escultor, cujas obras se encontram em igrejas ou parques da cidade do Rio de Janeiro. Ambos são filhos de mãe africana e pai português.
              Não só nas artes plásticas brilharam os artistas negros. Na música até atualmente se sobressaem. Costuma-se restringir a influência musical das pessoas africanas somente aos ritmos, por meio da percussão de tambores. Com isso deixamos de lado a memória das orquestras constituídas por pessoas escravas instrumentistas.
              Em meio a tantas influências das pessoas africanas que, se recriaram em nosso país, a música é, seguramente, um dos campos onde as referências africanas surgem de maneira significativa.
              Das múltiplas manifestações musicais os cantos do congado, jongo, capoeira e no samba tradicional, pagode ou partido alto. A essas revelações musicais brasileiras vinculamos outras manifestações que chegam de fora como rap, soul, gospel, funk, rock, pop, house, dance, spiritual, reggae. A musicalidade somando-se a energia da oralidade das pessoas africanas manifesta-se na força das formas improvisadas de cantar, fazendo versos como na embolada, no repente e nas trovas. A música dificilmente aparece sozinha, pois, normalmente está acompanhada do gingado, do rebolado, do corpo que dança. O interprete não deve, somente, produzir sons; deve movimentar coordenadamente sua cabeça, seus membros e pernas. A dança para as pessoas africanas não está limitada a um período separado da vida, ela acompanha as pessoas nos cerimoniais, no trabalho, nas honrarias. Cada grupo étnico se identifica com determinados tipos de dança[5].
              Ao resguardarem as raízes das pessoas africanas, seus descendentes ocupam um espaço numa sociedade complexa e multicultural como a nossa. Procurar uma identidade diferenciada é, também, ser mais brasileiro. Assumir a beleza estética que veio dos ancestrais é uma forma de resistência e de pertencimento. É conquista de cidadania.

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