FORMAS
DE RESISTÊNCIA: MOCAMBOS OU QUILOMBOLAS
SOUZA, Vera Lúcia Pereira de.
Ao longo dos séculos XVI ao XIX nos vários países do
continente americanos onde existia o escravismo existiram lutas das pessoas
africanas escravizadas à procura de sua liberdade. As formas de luta variavam
com revoltas nas zonas urbanas e rurais, fugas individuais, assassinatos de
senhores e capatazes e, mesmo, o suicídio. (LOPEZ, 2008).
A fuga era uma das saídas extremas que as pessoas
escravizadas encontravam para escapar do cativeiro. Escapavam sozinhos ou em
grupos de acordo com algum plano ou aproveitando-se de alguma oportunidade
inesperada. Das formas de resistência coletiva destaca-se a formação das
comunidades que reuniam os escravizados fugitivos. No nosso País Brasil foram,
inicialmente denominadas de mocambos[1]
e após, como são mais conhecidos, quilombos. (LOPEZ, 2008).
Em nosso País Brasil as primeiras informações a
respeito dos quilombos são do ano de 1575 no Estado da Bahia. Depois disso as
notícias não cessam de aparecer informando a formação do famoso quilombo de
Palmares com milhares de habitantes, localizados na Serra da Barriga, no atual
estado da Alagoas e de tantos outros nas regiões de mineração nos Estados de
Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais[2].
Alguns quilombos se estabeleciam estrategicamente próximo de fronteira para que
pudessem fugir para outros países em caso de perseguição. Era o caso de alguns
quilombos no Estado do Rio Grande do Sul. Uma das características destas
comunidades era a mobilidade. A própria palavra mocambo relaciona-se como o
tipo de moradia que poderia ser facilmente desmontada para uma rápida mudança,
ou seja, podiam descolar-se com a “casa nas costas”. Isso faz lembrar a herança
africana de alguns povos como os pigmeus[3].
Nem sempre os fugitivos ficavam em lugares isolados.
Muitos procuravam a proximidade com engenhos; a áreas de produção de alimentos;
áreas de mineração. Ocupavam terras devolutas ou de fronteiras econômicas e
regiões de sertões[4].
Existiram, também, os quilombos fundados e protegidos
por abolicionistas que procuravam arrumar trabalho para seus moradores como é o
caso do quilombo do Leblon. Como seus moradores trabalhavam em uma plantação de
camélias esta flor tornou-se símbolo da campanha abolicionista[5].
Assim, nas cidades onde existia grande concentração de
pessoas escravas africanas acontecia que alguns deles, ao se rebelar, fugir, de
seus donos, senhores, escolhiam por não abandonar a cidade, uma vez que não
conheciam o trabalho agrícola. (LOPEZ, 2008).
Deste modo, viviam na cidade como se fossem libertados,
contando com o acobertamento de ex-escravos alforriados e também, de alguns
senhores que lhes davam trabalho. Desta forma iam vivendo de forma precária
prestando serviços braçais ou pequenos comércios[6].
Também existiam os quilombos, cuja atividade principal
era o assalto às fazendas e povoações de sua proximidade. Por sua
característica este tipo de quilombo tinha uma existência mais curta. Alguns
deles, também, abrigaram pessoas indígenas e pessoas brancas procuradas pela
justiça. (LOPEZ, 2008).
Assim, a existência de Quilombo dos Palmares nos mostra
a capacidade de adaptação das pessoas africanas que precisaram conhecer e
dominar a geografia, o relevo, as plantas e animais de uma área completamente
diferente de sua região de origem.
A resistência, a procura incessante de liberdade, a
capacidade de criar um novo mundo fora da África são bem demonstradas pela
existência dos quilombos e lindamente cantadas nos versos de Paulinho da Viola:
MÚSICA:
UMA HISTÓRIA DIFERENTE[7]
A
história desse negro
É um pouco diferente
Não tenho palavras
Pra dizer o que ele sente
Tudo aquilo que você ouviu
A respeito do que ele fez
Serve para ocultar a verdade
É melhor escutar outra vez
{bis}
É um pouco diferente
Não tenho palavras
Pra dizer o que ele sente
Tudo aquilo que você ouviu
A respeito do que ele fez
Serve para ocultar a verdade
É melhor escutar outra vez
{bis}
Foi um
bravo no passado
Quando resistiu com valentia
Para se livrar do sofrimento
Que o cativeiro infligia
Apesar de toda a opressão
Soube conservar os seus valores
Dando em todos os setores
Da nossa cultura
Sua contribuição
Quando resistiu com valentia
Para se livrar do sofrimento
Que o cativeiro infligia
Apesar de toda a opressão
Soube conservar os seus valores
Dando em todos os setores
Da nossa cultura
Sua contribuição
Guarda
contigo
O que não é mais segredo
Que esse negro tem histórias
Meu irmão
Pra fazer um novo enredo
{3 x)
O que não é mais segredo
Que esse negro tem histórias
Meu irmão
Pra fazer um novo enredo
{3 x)
SUGESTÃO
DE LIVRO
O Livro “Liberdade por um Fio” – trata da História dos
Quilombos no Brasil – João José Reis e Flávio dos Santos Gomes (Organizadores)
Cia das Letras – 1996. O livro é uma reunião de artigos de vários autores sobre
quilombos situados em várias localidades do nosso País Brasil, desde os menos
conhecidos, até o de Palmares que é revisitado sob várias perspectivas. Resenha
disponível em: <http://resenhasbrasil.blogspot.com.br/2010/05/liberdade-por-um-fio-historia-dos.html>.
SUGESTÃO
DE SITE
Criada em 1988, a Fundação Cultural Palmares é uma instituição
pública vinculada ao Ministério da Cultura que tem a finalidade de promover e
preservar a cultura afro-brasileira. Preocupada com a igualdade racial e com a
valorização das manifestações de matriz africana, a Palmares formula e implanta
políticas públicas que potencializam a participação da população negra
brasileira nos processos de desenvolvimento do País.
Fruto do movimento negro
brasileiro, a Fundação Cultural Palmares foi o primeiro órgão federal criado
para promover a preservação, a proteção e a disseminação da cultura negra.
Em seu planejamento estratégico, a
instituição reconhece como valores fundamentais:
-
COMPROMETIMENTO com o combate ao racismo, a promoção
da igualdade, a valorização, difusão e preservação da cultura negra;
-
CIDADANIA no exercício dos direitos e garantias
individuais e coletivas da população negra em suas manifestações culturais;
- DIVERSIDADE, no reconhecimento e respeito às identidades culturais do povo brasileiro.
Conheça o site da Fundação Palmares – ligada ao
Ministério da Cultura. Disponível em: <http://www.palmares.gov.br/>.
SUGESTÃO
DE FILME
Quilombo. Direção Cacá Diegues. Brasil, 1984.
Sinopse: num engenho de Pernambuco, por volta de 1650,
um grupo de escravos se rebela e ruma ao Quilombo dos Palmares, onde existe uma
nação de ex-escravos fugidos que resiste ao cerco colonial, entre eles Ganga
Zumba, um príncipe africano. Tempos depois, seu herdeiro e afilhado, Zumbi, contesta
as ideias conciliatória de Ganga Zumba e enfrenta o maior exercito jamais visto
na historia colonial brasileira.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=bgiDwcs9_RQ>.
REFERÊNCIA
LOPEZ, Adriana. História do Brasil: uma interpretação /
Adriana Lopez, Carlos Guilherme Mota. – São Paulo: Editora SENAC São Paulo,
2008. Disponível em:
[1] Mocambos: Assentamentos rurais,
manifestações culturais vinculadas ao passado, ascendência escrava. Esses são
os parâmetros, segundo a Associação Brasileira de Antropologia, para se definir
um quilombo, mocambo ou terra de preto. Disponível em: <http://www.studium.iar.unicamp.br/africanidades/resenhas/falavigna4.html>.
[3] Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/pesquisa/pigmeus.htm>.
[4] Idem.
[5] Disponível em:
[7] Disponível em: <http://letras.mus.br/paulinho-da-viola/1746317/>.
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